O mistério da localização do Forte de Miranda

A ideia de uma construção antiga perdida sob o solo do Pantanal é para mim interessante e mística (daí a ideia de fazer um RPG que se utiliza desse elemento de mistério a ser descoberto). Mistérios enterrados nas terras e águas como se fossem nossas Eldorados. Um tema de narrativa poderoso para se fazer uma história! O que mais estaria enterrado sobre o Pantanal?

Esse post do blog trata justamente disso: Um forte perdido no Pantanal que acredito ter um paradeiro possível. Fundado em 1797, o Presídio de Miranda (como era chamado naquela época) era uma instalação militar feita para proteger a fronteira dessa parte do Brasil contra o avanço paraguaio (Lembrando que a Guerra do Paraguay foi somente em 1864-1870). O forte eventualmente deu origem a cidade de Miranda-MS, no pantanal.

Trago dois indícios do início da história do Forte começa (e um segundo mistério também):

Na exploração que fez em 1776 João Leme do Prado, examinou um logar situado na margem esquerda, um pouco abaixo da foz do ribeirão salobra; e este por ser logar sobraneiro á inundação perîodica, e outras circunstancias, julgou-o conveniente para um estabelecimento, a que de antemão deu pôz o nome de Albuquerque [a nota de rodapé diz que o nome dado foi “Mondego” ] [5, p. 427]

Este projeto não teve seguimento; mas em 1797, havendo noticia de que os espanhóes do Paraguay se aprestavão para vir estabelecer-se na vizinhança do rio, mandou o governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro fundar um presidio no logar onde existe actualmente a villa. [5, p. 427]

O segundo registro é:

Em 1778, o capitão João Leme do Prado lançava os alicerces do “presídio Nossa Senhora do Carmo do rio Mondego [atual rio Miranda]”, precisamente em 16 de julho daquele ano, por ordem do 6º capitão-general das Capitanias de Mato Grosso e Cuiabá, Caetano Pinto de Miranda Montenegro. [2, p. 223]

E aí, é 1776 ou 1778? do lado esquerdo ou do lado direito do rio? Darei minha resposta mais adiante. O paragrafo seguinte aos citação [5] acima descreve como era o “forte”:

Fez-se ahi uma estacada, que depois foi substituída por fortificação de terra socada, de pequenas dimensões e que nunca teve importância [5, p. 427]

Fato interessante: quando foi fundado em 1797 já existiam construções ao redor da rua principal, atual Rua do Carmo, e contava com 500 habitantes [2]. Essa é a nossa primeira pista sobre o paradeiro do forte!

Acima, nosso primeiro registro cartográfico mostra a posição do forte Miranda. Observe que nele podemos ver os fortes espanhois ao longo do rio Apa dos quais o presidio miranda foi feito para defender (em especifico o forte São José).

Esse segundo mapa é de 1798. Veja que na parte de baixo do mapa, embaixo do lado esquerdo do forte, está escrito “Norte”. Isso coloca o mapa do lado direito do rio, em cima da cidade de Miranda. Isso confirma a existência do forte no lado direito do rio, mas pode ter havido uma tentativa anterior do outro lado, dois anos antes…

Mas no próximo mapa, de 1811:

As flechas desenhadas no rio indicariam que ele está fluindo para o norte (sua direção correta), e então o forte estária do lado esquerdo do rio, fora da cidade. Porém lendo o texto nele, podemos ver que na verdade é o plano de um segundo forte! Se ele foi construído e qual o paradeiro dele caso tenha sido, é um mistério para mim ainda…

O mistério que me incomoda é o seguinte:

Se formos pra acreditar no mapa de 1798, então concluímos que o forte está em algum lugar embaixo da cidade. Mas ele não existe na atualidade, não aparece em nenhum mapa atual.

Sobre a história & paradeiro

Temos uma pequena linha com os eventos relevantes:

• 1776: Tentativa de construção do forte no lado esquerdo do rio
• 1778: Inicio da construção de seus alicerces no lado direito do rio
• 1797: Fundação do presidio
• 1826: Foi encontrada ja em ruínas em uma exploração [3, p. 139]
• 1860: Fundada uma nova colonia militar em outra localidade [1]
• 1864: Início da Guerra do Paraguai
• 1865: Nova colônia militar é destruída por paraguaios no inicio desse ano
• 1870: Fim da Guerra do Paraguai

A segunda pista se encontra nessa passagem, que data de 1856-1857:

sobre os fundamentos de um velho reducto, um quartel bem construído que aliás fora muito damhificado pelo fogo, fechava uma praça donde sahiam duas ruas que iam ter á fróntaria da egreja parochial, ambas ladeadas de casas que levantavam-se alguma distancia umas das outras. [1, p. 18-19]

E essas duas pistas me sugerem essa praça, praça Agenor Carrilho, como localização para o local de descanso do Forte Miranda:

A Rua do Carmo, a esquerda, liga a atual BR-262 diretamente com a praça, que está do lado da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, então a localização aparentemente cumpre com as duas pistas. Por enquanto, estou convencido de que se o forte/presídio de Miranda reside na cidade, é embaixo dessa praça. Está foto é de quando pela cidade, no ínicio do ano:

A ideia “mistérios enterrados sob o Pantanal” é a motivadora para fazer um cenário de Call Of cthulhu no Pantanal do século XX, que provavelmente vai se passar entre as décadas de 1920 e/ou 1930.

Referências

[1]   A retirada da laguna. Alfredo Maria Adriano d’Escragnolle Taunay (Visconde de Taunay). 1874. Disponível em: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/4870

[2]   Enciclopédia dos municípios brasileiros. IBGE. v. 35. 1957-1964. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=227295

[3]   Fortificações no Brazil. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVIII, Parte II, 1885. p. 5-140. Disponível em: https://ihgb.org.br/publicacoes/revista-ihgb/item/107764-revista-ihgb-tomo-xlviii-parte-ii.html

[4]   O Fator Militar na Política de Fixação da Fronteira Oeste do Brasil. Silvino da Cruz Curado. 1996.

[5]   Apontamentos para o Diccionário Chorografico da Província do Mato Grosso. RIHGB. Rio de Janeiro: Tomo XLVII, Parte II, 1884. p. 307-504. Disponível em: https://ihgb.org.br/publicacoes/revista-ihgb/item/107762-revista-ihgb-tomo-xlvii-parte-ii.html